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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

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SÍRIA: VETOS DE CHINA E RÚSSIA
   
Uma análise feita por comentaristas da BBC e divulgada recentemente, analisa os motivos pelos quais Bashar al Assad pode sobreviver à Primavera Árabe, apesar das denúncias diárias feitas pelos meios de comunicação ocidentais, mostrando o genocídio que se perpetua na Síria com a repressão do exército contra as pessoas que lutam há mais de dois anos na a tentativa de derrubar o regime ditatorial do país.

No entanto, a entrada em cena de interesse, como os do Irã, o apoio incondicional a Assad da Rússia e da a China, apoiando a Síria com seus vetos no Conselho de Segurança da ONU, a análise do conflito civil exige que seja visto dentro de um quadro de entendimento que envolve grandes interesses políticos, suplantando o foco humanitário.

Bashar al-Assad anunciou há alguns anos, antes do início dos protestos, que o seu governo iria desenvolver um projeto internacional chamado Quatro Mares, com o objetivo de criar laços políticos e econômicos dentro da região do Mediterrâneo entre os mares, Negro, Cáspio e do Golfo Pérsico.

Usando sua diplomacia com os países diretamente envolvidos (Turquia, Iraque e Irã) e da Rússia, o poder exercido a sua influência na área, tentou obter uma zona livre de trânsito de hidrocarbonetos (gás petróleo e gás natural) e outros bens que unem a Europa à Ásia Central, e pelo mar, à China, num remake da antiga Rota da Seda.

Segundo os analistas, a Síria comandaria a formação do consórcio político-econômico visando dar à Rússia e China uma saída estratégica para o Mediterrâneo e à Turquia confinar a ponte com a Europa. O projeto foi desenvolvido em um contexto que unisse as áreas produtoras de petróleo do Golfo Pérsico para o Mediterrâneo através de um gasoduto, unindo também as reservas de gás natural do norte da África e do Iraque por um gasoduto que, a partir da Turquia, isolaria a Europa, através do monopólio que abasteceria a Russia.

Mas os planos, na realidade da Síria de hoje, são apenas proposta, uma vez que a instabilidade gerada pela repressão brutal de Bashar al Assad e da Primavera Árabe não é o melhor cenário para sua implementação. O regime sírio tem o apoio incondicional do Irã contra as investidas bélicas de Israel. E a Síria, na fronteira israelense, tem um poderoso exército que se constitui em uma ameaça à máquina de guerra de Telavive e que permanece protegendo organizações do Hamas e do Hezbollah. E, entre os seus objetivos de política externa, continua a exercer proteção para o Líbano.

No contexto geopolítico e econômico, o território da Síria, de acordo com a estratégia dos quatro mares, tornou-se um território ocupado por tubulações que ligam reservas de gás natural no norte da África e do Iraque para o gasoduto Uniri Turquíay que abastece os países da Europa Central e através do qual a União Europeia, paradoxalmente com a implementação do projeto, espera se livrar do monopólio do poder russo. De fato, se conseguir acesso a grandes reservas de gás natural da região, a Rússia perderá gradativamente sua influência sobre a economia europeia e seu peso corresponderia ao da Alemanha, país que mais quantidade de gás consume na Europa.

Segundo o "The Guardian" um projeto como a estratégia dos quatro mares, fortaleceria o espaço político e econômico com grande importância mundial, que resultaria em prejuízo significativo de Israel, como potência regional, e EUA, como potência mundial. Esses países não têm uma agenda internacional que ajude a resolver o conflito sírio. Isso promoverá a emergência do Irã como potência regional, o que levaria a um controle indireto da área por parte da China e da Rússia.

As manifestações contra o governo na Síria estão repercutindo mundialmente há meses, marcadas por denúncias de violação aos Direitos Humanos. Várias tentativas de encerrar este conflito interno foram encaminhadas ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que formulou uma proposta de resolução pedindo que Bashar al-Assad renuncie. Mas a China e a Rússia vem vetando a proposta, o que foi criticado por vários países. Porém, além das justificativas humanitárias apresentadas pelos governos russo e chinês, há vários fatores políticos envolvidos que apontam para as reais causas dos vetos. O projeto dos quatro mares talvez explique tudo.



   
 
 
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