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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

Patrono
ARMAS QUÍMICAS, USADAS DESDE A ANTIGUIDADE
   
Um relatório da ONU confirmando a utilização de armas químicas contra civis e dizendo ter provas de que as tropas de Bashar Al Assad usaram o gás sarin, considerada a arma de extermínio de massa mais letal e proibida pela Convenção de Genebra, aumentou o nível de tensão naquela região do Oriente Médio. E levou o presidente Barak Obama e os líderes da União Europeia a reavaliar o apoio aos insurgentes com o envio de armas, sob fortes protestos da Rússia, que junto com a China são parceiros de Al Assad e vetam todas as medidas restritivas contra o governo sírio na Comissão de Segurança da ONU, onde são membros permanentes.

Pesquisadores da história antiga afirmam que a ideia de aniquilar o inimigo por envenenamento é bem antiga. Na Índia de 2000 a.C. era comum empregar nas guerras cortinas de fumaça, dispositivos incendiários e vapores tóxicos. O historiador grego Tucídides conta que na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) os espartanos colocavam madeira impregnada com enxofre e piche ao redor dos muros das cidades inimigas, criando vapores sufocantes.

No fim do século XIX, na Guerra dos Bôeres, na África do Sul, as tropas inglesas inventaram um artifício para lançar ácido pícrico, um explosivo. O engenho não funcionou, mas começaram aí as tentativas de ganhar combates com armas tóxicas. No entanto, com o desenvolvimento da ciência, começou também a fabricação de substâncias poderosamente venenosas para fins militares.

Por definição dos manuais militaraes, "guerra química é um tipo de guerra não convencional, baseada no uso de propriedades tóxicas de substâncias químicas para fins de destruição em massa, seja com finalidades táticas(limitadas ao campo de batalha), seja com fins estratégicos (incluindo a retaguarda e vias de suprimento do inimigo). As armas químicas diferem de armasconvencionais ou nucleares porque seus efeitos destrutivos não são principalmente decorrentes da força explosiva".

O professor Paulo Queiroz Marques, pesquisador-doutor do Centro de História e Filosofia da Ciência e da Tecnologia, da USP, afirma que "o eventual uso de armas químicas e biológicas restringe-se ao fator surpresa, sem a preocupação precípua de atingir um grande número de pessoas. Este tipo de armamento também é conhecido como "bomba atômica dos pobres", pois pode ser preparado em qualquer país que disponha de uma indústria de fertilizantes químicos ou pesticidas medianamente desenvolvida". Segundo a jornalista especializada Fátima Cardoso,"a mesma ciência que inventou os inseticidas produz uma praga terrível: as armas químicas".

Na Líbia, após a derrubada de Muamar Kadafi, foi descoberta uma fábrica de armas químicas disfarçada de indústria farmacêutica. E no Iraque foi comprovado um ataque com gás mostarda à aldeia de Halabja, um lugarejo que havia sido invadido pelo Irã, habitado pelos curdos. Cinco mil civis foram mortos. Sete mil ficaram feridos. As imagens das vítimas paralisadas em agonia horrorizaram o mundo. E a antiga União Soviética foi acusada de usar gases incapacitantes contra os rebeldes no Afeganistão. Segundo analistas do Pentágono, à luz das análises laboratoriais as armas químicas, são baseadas na toxicidade de substâncias utilizadas na sua fabricação, capazes de matar ou causar danos a pessoas e ao meio ambiente. Nesta escala destacam-se o gás mostarda, o cloro (Cl2), o ácido cianídrico (HCN), o gás sarim, o agente laranja e o Napalm. Todos têm sido utilizados tanto para reprimir manifestações civis, como é o caso do gás lacrimogêneo, quanto em grandes conflitos.

O pesquisador Queiroz Marques diz que não é necessária a existência de infraestrutura sofisticada para a fabricação da maioria das armas químicas pelos países em desenvolvimento. E acrescentou: "Na segunda metade da década de 80, o Iraque construiu um projeto de refino de petróleo em Musayyib, ao sul de Bagdá. O petróleo era, então, transformado em produtos químicos como o etileno e seus derivados. Um desses era o óxido de etileno, usado na fabricação de anticongelantes para radiadores de automóveis, mas usado, também, na produção do tiodiglicol, um dos componentes do gás mostarda. Com isso, o Iraque não mais dependeu de importações. E transformou-se em exportador do produto e suspeita-se que ele tenha fornecido armas químicas para o Sudão, seu aliado". E Marques continua: "Esses exemplos demonstram que a produção de grande parte das armas químicas não apresenta maiores dificuldades técnicas ou tecnológicas e que estão, portanto, ao alcance de países fracamente industrializados. Logo, a ameaça de ataques com esse tipo de armas é real e palpável e o perigo realmente iminente".

Vários acordos tem procurado vetar a utilização deste armamento, como a Convenção de Armas Químicas (CWC), nascida do Protocolo de Genebra de 1925, que proíbe o uso de gases tóxicos e métodos biológicos para fins bélicos. Vários países assinaram o acordo, antes da II Guerra Mundial, quando foram interrompidas as negociações. A discussão do protocolo só foi retomada com o fim da Guerra Fria. Mas existem outros produtos químicos usados para fins militares e que não estão listados na Convenção. Como o desfolhantes, que destroem a vegetação, mas cujos efeitos tóxicos sobre os seres humanos não são imediatos, como o agente laranja, usado pelos Estados Unidos no Vietnam. Ou os incendiários e explosivos, como napalm, também e usados em larga escala pelos americanos no Vietnam.

O documento da ONU sobre a guerra civil síria se baseou numa operação coordenada pelo diplomata brasileiro Paulo Pinheiro, que chefiou uma equipe de vinte investigadores e afirma que há fundamentos razoáveis para acreditar que agentes químicos tóxicos foram usados como armas em pelo menos quatro ataques na guerra civil na Síria. A comissão acredita que resultados conclusivos só poderão ser confirmados depois de testes das amostras tiradas de vítimas ou de locais dos supostos ataques e pediu ao país que permita a entrada de uma equipe de especialistas para realizar a constatação.

Mas o governo francês diz que tem provas concretas da utilização do gás sarin contra civis sírios. No Japão o professor Yoshiaki Yoshimi, publicou uma série de estudos sobre o uso de armas químicas pelo exército japonês, contra prisioneiros de guerra australianos, durante a Segunda Guerra Mundial. Yoahki afirmas que o exército imperial japonês mantinha uma unidade secreta que realizava experiências com armas químicas e biológicas, denominada Unidade 731.

O serviço de inteligência americano, CIA, calcula que atualmente vinte países têm armas químicas e outros dez estão na fila para começar a produzi-las. Os arsenais conhecidos estão nos Estados Unidos (30 mil toneladas), na União Soviética (400 mil toneladas), na França e no Iraque. Os países que provavelmente têm, mas não confessam são Egito, Síria, Líbia, Israel, Irã, Etiópia, Birmânia, Tailândia, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Vietnã, Formosa, China, África do Sul e Cuba. Nas mãos das superpotências nucleares, pouca diferença fazem os estoques químicos.Mas a indignação causada pelo ataque iraquiano a Halabja serviu ao menos para disparar uma nova investida pelo desarmamento químico. Em Paris, representantes de 149 países condenaram o uso de armas químicas como passo inicial para futuro acordo de completo banimento.



   
 
 
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