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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

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MERCOSUL: ECONÔMICO OU IDEOLÓGICO?
   
O caso de Edward Snowden, ex-consultor dos serviços de inteligência norte-americana e hoje o inimigo público número um de Washington, deverá ser o item prioritário da pauta de reuniões do Mercosul, depois que a Venezuela assumiu sua presidência rotativa e o presidente Nicolas Maduro deixou claro que sua gestão será mais ideológica que econômica.

Esta disposição, segundo analistas, poderá gerar divergências entre seus membros, o que teria levado o presidente eleito do Paraguai, Horácio Cartes, a recusar o convite pra voltar à organização, depois de seu país ter sido novamente aceito na cúpula dos presidentes dos países membros, em Montevidéu. Atualmente, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru são Estados Associados do Mercosul. Mas apenas a Bolívia, que não é país fundador, é vista como provável parceira na nova orientação de Maduro.

Segundo observadores políticos os demais países membros, Argentina, Uruguai e Brasil não se pronunciaram nem deram apoio à pretensão venezuelana, muito embora a Argentina tenha anunciado o lançamento de um site "bolivariano" nos moldes do Facebook e o Brasil sua disposição de denunciar os Estados Unidos na ONU por espionagem cibernética em seu território. Os analistas, lembram que, ao contrário de vários dos demais sócios, a Venezuela se opõe aos tratados de livre comércio tradicionais.

Já os sócios fundadores do bloco (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) buscam, desde antes da entrada na Venezuela, um Tratado de Livre Comércio com a União Europeia. Segundo o ex-vice-chanceler venezuelano e ex embaixador Milos Alcalay, o começo da gestão da Venezuela deverá ser marcada pelo caso de Edward Snowden, a quem Maduro quase diariamente oferece asilo político Ele prosseguiu dizendo que em vez de tratar do delicado e difícil tema do Mercado Comum do Sul e das relações com outras regiões como a União Europeia, Maduro procurou politizar a reunião no Uruguai com o tema de Snowden, o que foi lamentável. Para o diretor do Centro de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Miami, Ariel Armony a pergunta é até que ponto os outros membros do Mercosul vão permitir que a presidência seja usada como plataforma política.

Em 2012, a entrada da Venezuela no Mercosul foi marcada pelo discurso "anti-imperalista" do então presidente Hugo Chávez, que apresentou esta adesão como uma "derrota ao império" (os EUA) e as "burguesias lacaias, incluindo a venezuelana". O governo de Maduro, que assumiu o poder em abril, após a morte de Chávez, no dia 5 de março, mantém a mesma linha e considera que a presidência da Venezuela marcará um triunfo "da visão geopolítica" do falecido presidente, segundo declarações do chanceler Elías Jaua.

Em entrevista à rede Telesur Jaua declarou que o bloco já não é só um espaço concebido em um princípio para o livre-mercado, mas um espaço para a união política, para a união social, e, por isso que deve surgir um novo Mercosul. E para que isso aconteça, a presidência venezuelana proporá estabelecer pontes com a Alba e Petrocaribe, fóruns promovidos pelo chavismo, para avançar rumo à construção de uma ampla zona de comércio justa na América Latina.

Os analistas concordam que o peso político internacional de Maduro não é o mesmo que o de Chávez, mas não deixam de alertar que ele continuará impulsionando uma "ideologia socialista" nos espaços de discussão durante sua gestão à frente do Mercosul, o que poderia gerar resistência de outros países.Na visão do cientista político venezuelano John Magdaleno. Caso haja uma excessiva ideologização, a Venezuela pode encontrar uma rejeição natural de parte de alguns de seus membros, especialmente do Brasil, que tem uma visão bastante instrumental do Mercosul.

Maduro assumiu sem solucionar o retorno do Paraguai ao bloco econômico, do qual foi suspenso em junho de 2012 depois da destituição do presidente Fernando Lugo mediante um julgamento. O presidente eleito, Horacio Cartes, alerta que só aceita voltar se receber a presidência temporária, como corresponde por ordem alfabética, segundo as regras do bloco.

Para Félix Arellano, professor da escola de Estudos Internacionais da Universidade Central da Venezuela (UCV), o Mercosul suspendeu o Paraguai, que se opôs ao ingresso dos venezuelanos, para depois fazer a Venezuela entrar pela janela, o que exacerbou as diferenças e contradições no bloco.

Jaua afirmou à Telesur que a Venezuela não colocará "nenhum impedimento" ao retorno do Paraguai, quando Cartes assumir a presidência, e que fará "tudo o que for necessário para que o país seja reincorporado e que se sinta confortável".

Durante a reunião a Argentina apresentou a rede social Facepopular que pretende competir com o Facebook pelo mercado latino-americano de usuários. O tom de crítica da nova rede começa por seu nome: o "Face" não tem o significado de "rosto" como seu concorrente americano, mas é uma sigla que significa "Frente Alternativa Contra o Establishment". Em inglês, "establishment" costuma se referir às ordens políticas, econômicas e ideológicas do Estado.

O lançamento do Facepopular faz parte do plano dos países latino-americanos membros da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em integrar tecnologicamente a região por meio da construção de uma grande rede de fibra óptica.

O bolivarianismo tinha como seu principal expoente o presidente venezuelano Hugo Chávez, que faleceu em março deste ano e engloba o pensamento político e social ligado a alguns movimentos da esquerda latino-americana. Em 2004, Chávez e Fidel Castro, líder da revolução cubana, fundaram a Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), que pretende fazer frente aos Estados Unidos. Em entrevista ao site britânico BBC World, representantes do Facebook não quiseram dar declarações sobre o lançamento da rede social latino-americana.

Nesta semana, Iris Varela, ministra venezuelana de Assuntos Penitenciários afirmou que os cidadãos devem cancelar suas contas no Facebook, já que "estão trabalhando de graça como informantes da CIA", por causa das acusações de espionagem conduzidas pelo governo americano.



   
 
 
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