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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

Patrono
SANTO CHINÊS É MAIS BARATO
   
A venda de imagens religiosas fabricadas na China vem aumentando em diversos países, inclusive no Brasil, onde está a maior população católica do mundo, seguida de Portugal. Neste último, comerciantes e clientes dão preferência aos produtos asiáticos, apesar da qualidade inferior, compensada pelos preços mais baixos. As peças chinesas são mais leves, menos perfeitas e apresentam cores mais vivas do que as nacionais. Segundo diz António Santos, um dos vendedores mais antigos do Santuário de Fátima "as caras das imagens são todas iguais, só muda a barba quando é um santo". Segundo ele, o material de que são feitas as imagens chinesas é, em regra, menos valioso e resistente. Mas são poucos os clientes que rejeitam o produto não português. Até os postos de venda nos santuários comercializam imitações feitas na China. A explicação é simples: um santo português custa 20 euros, enquanto que a imitação chinesa fica por cinco.

Segundo a comerciante Sónia Oliveira, na China são feitas "meras imitações de imagens dos santos católicos". E ela acrescenta: " Mas as pessoas procuram o mais barato. Os preços são imbatíveis, mas a falta de qualidade dos produtos chega a ser, em alguns casos, aterradora ao ponto de surgirem diferentes santos que apenas se distinguem pelo autocolante com o respectivo nome ou pintados com cores que nada têm a ver com a versão original".

Os comerciantes portugueses são unânimes em afirmar que o problema é que a falta de qualidade das imagens não se limita às lojas. O rosto é sempre o mesmo, seja de Nossa Senhora, do Menino Jesus ou de Santo Antônio. Hélio Henriques, gerente da Farportugal, que fabrica artigos religiosos de grande qualidade para o mercado nacional e exporta 75 por cento da produção para o estrangeiro, incluindo terços para o Vaticano, Israel e Lourdes (França), diz que há igrejas em Portugal onde se exibem nos altares figuras que constituem autênticas aberrações artísticas e religiosas. E explica que na representação dos santos tudo tem significado: as feições, as vestes e os acessórios.

Mas, o que se vê são bonecas, com algumas pequenas transformações - seja o cabelo, o manto ou o pormenor de terem o Menino ao colo, e, eventualmente uma inscrição com o nome do santo. E prossegue: "Um S. Bento vestido de branco, apesar de ser o fundador da Ordem Beneditina, que usa hábito preto e uma Senhora do Sameiro com manto cor-de-rosa, em vez do azul da Imaculada Conceição. Temos que primar pelo rigor da arte religiosa". Contra os exemplos de mau gosto, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, apelou aos sacerdotes, aos fiéis e até aos produtores de artigos religiosos para apostarem na qualidade e valorização das imagens dos santos e outros produtos, enquanto manifestação e forma de comunicação do sagrado. E o Arcebispo desabafou. "Às vezes, perante certas coisas que se veem, apetecia pegar numa vassoura e deitar tudo fora".

No Brasil, segundo o jornalista Cassiano Viana, editor do site "Brasil Econômico", o mercado de artigos religiosos movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano. De olho nos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude, a tradicional feira católica trocou São Paulo pelo Rio de Janeiro. Da mesma forma, com a chegada de peregrinos do mundo todo, a 10ª edição da ExpoCatólica, feira de Livros e Artigos Religiosos, principal evento dos fornecedores de produtos católicos do país, no Riocentro, recebeu cerca de 400 mil visitantes, número 16 vezes maior que a média do evento realizado anualmente em São Paulo, onde a feira reúne uma média de 25 mil visitantes. Esta é a primeira edição do evento fora daquela cidade. O evento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizado pela Promocat, promotora de eventos, foi criado em 2003. "Antes disso, os fornecedores de materiais católicos buscavam a sua promoção em feiras de outros segmentos. Não havia um evento focado no negócio dentro do contexto de religiosidade católica", explica Fábio Castro, diretor da Promocat.

Segundo o instituto de pesquisa Datapopular, dos R$ 15 bilhões do mercado religioso brasileiro, anualmente cerca de R$ 11 bilhões são movimentados pela Igreja Católica. Martinho Rocha, dono da Milagros, especializada em incensos e carvões, tem como meta faturar R$ 1,6 milhão em 2013. No ano passado, a empresa vendeu R$ 1,2 milhão. A companhia importa sua matéria prima da Holanda, Grécia, Itália, Alemanha e Inglaterra. No ano passado, foram comprados, desses países, cerca de 15 toneladas de incenso.

Além disso, sua fábrica em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, fabrica cerca de 3 toneladas de incenso por ano. O principal cliente da empresa, cujos produtos são distribuídos em todo país, são as lojas de artigos religiosos. Em 2007, a Milagros criou um incenso especial em homenagem à vinda do Papa Bento XVI ao Brasil. No ano seguinte, o Vaticano encomendou o item, que foi utilizado na Missa do Galo e desde então passou a ser exportado e utilizado nas missas ministradas pelo pontífice. Ele também criou o incenso Benedictus XVI utilizado pelo Papa Francisco na cerimônia que marcou o início de seu pontificado, em março desse ano.

Mas o mercado de produtos religiosos está cada vez mais diversificado no Brasil, segundo dados de entidades de pesquisas da área. A editora, gravadora e promotora de eventos religiosos Canção Nova estima um faturamento de R$ 60 milhões em 2013, com a venda de livros, CDs, DVDs e acessórios como camisetas, bonés, chaveiros e escapulários, dentre outros. Clara De Petris, administradora da empresa Christias Artigos Sacros, que vende paramentos, elementos de liturgia e imagens e que importa seus produtos em grande parte artesanais de casas tradicionais na Itália, Espanha e Bélgica, chegou há um ano e meio em São Paulo. Em Buenos Aires, o ponto de venda já existe há mais de 65 anos. As roupas são o carro-chefe da loja. Clara explica que o mundo católico também possui seus Armanis, Valentinos e Louis Vuittons. E acrescenta: "Um conjunto de estola, caçula e túnica da belga Slabbinck pode chegar a quase R$ 7 mil. Mas é preciso levar em conta que são produtos artesanais, com tradição europeia, com a experiência de várias gerações de trabalho a serviço da Igreja Católica e qualidade superiores aos oferecidos no Brasil".



   
 
 
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